O meu último desejo era ser cremada, espero que seja isso que aconteça. Para quê campas? Buracos na terra? Momentos tão cruéis de serem vistos… Além do espaço ocupado pois tanta gente morre todos os dias… Flores? Bons, essas coisas são para serem dadas em vida… Palavras bonitas diante da lápide? Essas palavras são para serem ditas em vida.
Entendo que seja um post mórbido, mas já há algum tempo que não tirava da cabeça escrever estas coisas… Já tinha pedido ao C. este grande favor da parte dele. Desculpem, mas já sabem que podem sempre não ler…
Que mais há a dizer? Aproveitem a vida, a felicidade não existe, existem os momentos felizes… e esses… bem, respirem, cheirem, sintam, fotografem, enfim, não os percam nem esqueçam.
2006 foi o ano da descoberta da miocardiopatia dilatada. Sabia lá eu o que era isto… Estava desempregada, decidi tirar um tempo para mim, inscrevi-me num ginásio… e foi aí que percebi que o meu cansaço era extremo mesmo. Não era normal. No entanto ainda consegui ter um ano quase, quase normal… Tirando que o meu sonho de arrendar casa foi por água abaixo…
2007 foi um ano com momentos muito altos e momentos muito baixos. Em Março comecei a namorar com o C., a pessoa mais espectacular que conheci até hoje, com que aprendi sempre imenso, que fez tudo por mim, que me amou verdadeiramente. Desejo-te tudo de bom pois mereces tudo do melhor nesta vida. Sempre sincero, frontal, honesto, amigo, cúmplice… nunca mais acabaria de escrever aqui coisas. Amei-te, amo-te e amar-te-ei sempre onde quer que esteja agora. Em Maio as coisas pioraram mas ainda consegui ter um Verão mais ou menos bom. Em Setembro tive o enfarte renal e fui internada no Barreiro. Passei por momentos que prefiro nem falar. Em Outubro perdi o meu gatinho Jimmy… E a partir daí foi tudo a descambar, até que baixei no hospital de St. Marta dia 31 de Dezembro.
2008 foi um ano triste em que perdi pessoas que gostava muito: Ricardo, Fernando, Marisa e João. Perdi a minha porquinha Akira que adorava. Passei 2 meses e tal internada em Lisboa, passei meses em que só me deslocava de cadeira de rodas e mal saía de casa… Em Julho tive umas melhoras impressionantes que me deixaram ir passar um fim de semana fora num hotel e onde pude mergulhar numa piscina. Consegui também ir até à praia molhar os pés na água. Consegui ir ao MacDonalds, consegui passear um pouco, ir ao café comer uns caracóis… Dizem vocês, coisas banais, não é? Mas quando passam quase 1 ano sem nada destas coisas, não queiram imaginar como ela vos fazem sentir bem e soltar umas lágrimas de alegria… Damos um valor enorme à vida… à natureza… ao mar, ao vento, à chuva, às flores… até conduzir um carro…
Em Agosto tudo piorou, piorou, até que estou aqui neste mês de Dezembro a escrever estas coisas…
Concluindo, quero agradecer a todos sem querer dizer nomes, pois seria injusto… São demasiados. E cada um sabe à sua maneira o quanto gostava de mim. Mas claro, agradeço o apoio dos meus pais. As coisas foram complicadas entre nós mas sei que me amavam tal como eu vos amava. Cláudio… não há palavras para agradecer tudo, tudo, tudo o que fizeste por mim. E digas tu o que quiseres, mais ninguém o teria feito. E já sei que não gostas que agradeça, mas é a última vez: OBRIGADA!
Ah! Ok! Mais uns últimos pedidos, pode ser? Lutem pelos animais, lutem pelas pessoas, lutem por este mundo que já nem parece ser um Mundo. Temos mesmo que ser a pior raça à face da Terra?...
Beijos e mais beijos a todos!!!!"
Tânia Vanessa Silva Maia 10-10-1982 27-03-2009
My last wish was to be cremated, I hope it will be so. Why graves? Holes in the ground? Such hard moments to witness... Not to mention the space they take up, with so many people dying every day... Flowers? Those things are for the living... Pretty words by the headstone? Those words should be said while people are alive.
I understand this may be a morbid post, but I’ve been thinking of writing these things for a while... I had already asked C. for this big favor. I’m sorry, but you can always choose not to read...
What else is there to say? Live life, there is no happiness, only happy moments... as for those... well, breathe, smell, feel, photograph, don’t lose them or forget them.
2006 was the year they discovered my dilated miocardiopathy. I had no idea what that was... I was unemployed and decided to take some time for myself, I enrolled in a gym... That was when I realised I was extremely tired. It wasn’t normal. I did manage, however, to have a nearly normal year... except for my dream of renting an apartment.
2007 had very high moments and very low moments. In March I started dating C., the most amazing person I’ve ever met, with whom I’ve learnt a lot, that has done everything for me, that really loved me. I wish you all things good, for you deserve the best in life. Always sincere, outspoken, honest, friendly, understanding... I could go on writing for ever. I have loved you, I love you and I will always love you wherever I am now. In May things got worse, but I still had a decent summer. In September I had the kidney stroke and was hospitalised in Barreiro. I went through things I’d rather not talk about. In October I lost Jimmy, my kitten... And from then on it was a slippery slope, up to arriving at Santa Marta Hospital, on December 31.
2008 was a sad year, in which I lost people I liked very much: Ricardo, Fernando, Marisa and João. I lost Akira, my beloved little pig. I spent over 2 months in hospital in Lisbon, for months I could only move in a wheelchair and hardly left home... In July I improved dramatically and was able to spend a weekend out in a hotel and dive in a swimming pool. I was able to go to the beach and wet my feet. I was able to go to McDonald’s, walk a little, go to the café and have some snails... You think it’s trite, right? But when you spend a year without any of this, you can’t imagine how it all makes you feel good and weep with joy... You value life tremendously... nature... the sea, the wind, the rain, the flowers... even driving... In August everything got worse and worse, and now here I am in December, writing this...
In conclusion, I want to thank you all, without naming anyone, for that would be unfair... You are too many. And each of you knows in their own way how much they loved me. But I thank my parents for their support, of course. Things have been complicated between us, but I know you loved me just as I loved you. Cláudio... I have no words to thank all you’ve done for me. And, no matter what you say, no one else would have done it. And I know you don’t like me to thank you, but it’s the last time: THANK YOU!
Oh, a few more last requests, OK? Fight for the animals, fight for people, fight for this world that doesn’t seem to be a World anymore. Must we really be the worst race on the face of the Earth?
Lots of kisses to everyone!